Eu era um observador muito eficaz, tudo o que acontecia naqueles pampas eu sabia. Eu tinha um vizinho muito rico que criava bois e cavalos, ele era o estancieiro.
O estancieiro nunca ajudava ninguém, tinha muita maldade no coração, assim como seu filho. Eles tinham um escravo, que todos chamavam de Negrinho que era muito mal tratado pelos dois.
Certo dia eu estava na varanda de minha casa, quando escutei uma conversa entre o estancieiro e nosso vizinho. Este dizia que seus cavalos eram mais rápidos que os do estancieiro. O fazendeiro que era muito orgulhoso resolveu fazer uma corrida de cavalos para provar que seu adjacente estava errado. Assim mandou seu escravo, Negrinho, treinar e montar seu cavalo mais veloz.
No dia da corrida, eu via no rosto de Negrinho certo medo, não era de menos, pois ele corria por sua vida. Fui até o local onde haveria essa disputa, encontrei um lugar perto da chegada e esperei a largada.
A corrida havia começado, logo após as apostas, o Negrinho estava com certa vantagem, porém algo assustou seu cavalo fazendo com que ele perdesse a corrida. Nesse momento olhei fixamente para o estancieiro que demonstrava fúria em sua face, por ter de cobrir todas as apostas.
Alguns minutos depois de eu chegado em casa, ouvi o estancieiro gritando com o seu escravo. Ele iria ser punido pela derrota. Deveria ficar 30 dias e 30 noites cuidando de 30 cavalos no pasto. Como se não bastasse deu-lhe trinta chibatadas. Fui até a varanda e vi o Negrinho chorando levando os cavalos para o pasto.
Na manhã seguinte acordei com os gritos do filho do estancieiro chamando o pai. Ele estava dizendo que o escravo, havia adormecido e deixado todos os cavalos fugirem. O fazendeiro mais uma vez furioso foi até o pasto buscar o garoto. Algum tempo depois deu para ouvir os gritos do Negrinho sendo chicoteado mais uma vez depois a voz do patrão ordenando que ele voltasse e procurasse pelos cavalos.
Fui dar um passeio á tarde e vi que o Negrinho havia conseguido reunir todos os cavalos. Um pouco mais tarde ouvi o filho do estancieiro dizendo para o seu pai que o escravo havia adormecido novamente e deixado os cavalos escaparem. Fui até a varanda e vi o rosto daquele jovem expressando satisfação e comentando com um amigo que havia soltado os cavalos para ver seu escravo sofrer.
Ouvi mais uma vez o Negrinho levando uma surra, porém ele não gritava mais. Ouvi a voz do patrão ordenando a seus outros escravos que jogassem o menino em um formigueiro, pois ele estava morto.
No outro dia eu resolvi ir até o formigueiro ver como estava o garoto, e para minha surpresa eu não era o único o estancieiro havia ido lá também. Para não criar problemas me escondi atrás de uma árvore, e levei um susto. O garoto estava sorridente ao lado de Nossa Senhora e dos trinta cavalos. O fazendeiro estava pasmo, olhando o menino montando no cavalo que havia perdido a corrida e indo embora.